terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Discurso Chic - Publicidade Imaginária



Livro de Moda do Discurso. Abaixo, entrevista com autora.

Entrevista com Victória Fadel (prima distante de Glória Kalil), autora do livro Discurso Chic

"Não basta vestir os corpos, as aparências são importantes também nas palavras. É preciso vestir as palavras e o modo de comunicar".

Victória Fadel, autora Chic


P: Victória, conte um pouco sobre este novo projeto.

V: Meu objetivo é alertar as pessoas para a importância das aparências, e ajudá-las a estar antenadas com a contemporaneidade. Durante um tempo bastou cuidar da aparência física, mas hoje, especialmente com as redes sociais, é importante como você parece por conta do que diz, das palavras que usa, daquilo que comunica aos outros.

P: Por exemplo?

V: Por exemplo, no tempo de nossas avós, um espartilho ajudava a apresentar melhor figura socialmente, nossas mães também tinham seus truques de beleza. Hoje, temos pouca interação social pessoalmente, mas a repercussão social via internet é enorme. Ir a uma festa com vestido inadequado é muito menos grave do que um tweet inadequado.

P: Mas as mídias sociais são justamente para que as pessoas compartilhem o que fazem e o que pensam. Como fica a opinião das pessoas?

V: Pois é, essa coisa de opinião atualmente é bem "out", por isso é preciso cuidado.

P: O que é "in"?

V: Fotos de gatos com legendas antropomorfizadas, são super in. Fotos de bebês, frases de efeito sobrepostas com imagens bonitas, frases da Clarice Lispector e outros autores que nunca escreveram as ditas frases, comentários de indignação sobre "tudo isto que está aí". Todas estas coisas são super in. Senso de humor é totalmente out, ele foi substituído pelo que chamo em meu livro de ofendidismo.

P: Mas e a opinião das pessoas? Que lugar tem a individualidade, a alteridade, a espontaneidade?

V: Talvez dentro da própria cabeça, talvez em um curso de filosofia, talvez no divã de um analista. A menos que a pessoa prefira arriscar os muitos estigmas possíveis decorrentes de dizer o que realmente pensa, de compartilhar sua opinião. O objetivo do livro é chamar a atenção das pessoas para os novos tabus, e ajudá-las a deixar de lado o mito da liberdade de expressão.

P: Agora uma pergunta delicada. Algumas críticas apontam que seu livro é um manual de hipocrisia sistematizada, que busca oferecer recursos para que a pessoa diga o que o outro quer ouvir, ou possa usar de seu discurso para favores pessoais de acordo com falsos valores propagados pela mídia.

V: Maior hipocrisia seria negar a importância das aparências e daquilo que as pessoas pensam de você. Ou melhor, daquilo que você quer que as pessoas pensem sobre você. Qualquer um que queira arriscar sua sorte no mundo politicamente correto sendo genuíno tem minha admiração, e não diga que não avisei. Aqueles que quiserem sobreviver e se dar bem no mundo contemporâneo em que vivemos, podem contar com meu livro.